Cadeirantes dão exemplo de força de vontade
Time de Basquete sobre cadeira de rodas além de premiado, enfrenta o preconceito e inclui atletas na Capital
Segundo lugar no regional nordeste, Terceiro lugar no Brasileiro e Bicampeão do Maranhão, todos em 2009. Esse foi o resultado de um trabalho que começou em 2003. O time de Basquetebol de Cadeira de Rodas de Teresina formado por 14 atletas das mais diferentes limitações, é a prova concreta de que o esporte se praticado com persistência e seriedade, sejam eles na categoria olímpica ou paraolímpica, geram resultados satisfatórios e engrandecedores.
Em 1958, o Brasil ingressou na atividade paraolímpica através do basquete de cadeiras de rodas. Em 2006, o Piauí formou sua primeira equipe de basquetebol em condições de disputar competições oficiais. Antes, eles não tinham tanto incentivos, nem tantos atletas interessados. No primeiro campeonato disputado, os competidores dos outros estados chegaram a dizer que a equipe Piauiense utilizava carroças e não cadeiras. Superado o problema “estrutural”. Ano seguinte, a equipe conseguiu o 3° lugar no Brasileiro. O olhar dos outros atletas mudou, “eles vêm do Piauí, competindo a pouco mais de um ano e já conseguem um pódio?” – Esse é o olhar de quem sabe do esforço por trás de cada conquista.
A ajuda é mútua, as dificuldades são superadas em grupo
Ao contrário do que se imagina, o basquetebol paraolímpico tem as mesmas regras e estrutura do basquete convencional. O tamanho da quadra, a altura das tabelas e o tamanho e peso da bola, são os mesmos para as duas modalidades. O que diferencia é o modo como se joga. Para os paraolímpicos, a cadeira de rodas é fundamental, não como um entrave, mas como um elemento fundamental com o qual eles têm que lidar, só isso.
“Eu gosto do que eu faço, é gratificante, faz bem pra mim e faz bem pra eles também, tenho um convívio diário com eles não só na quadra, mas também fora. Nossa relação é de amizade”. Para o técnico Rex Jone, não é difícil treinar o time, o importante é se adequar ao grau de limitação de cada atleta. Rex ainda acrescenta que não é bom olhá-los com pena ou dó. Eles são pessoas normais, com algumas limitações, mas segundo ele, todo mundo têm limitações. O que diferencia é o grau, mas eles não são incapazes, portanto não tem o porquê de haver um sentimento de pena. O treinador Rex diz que não economiza nos “puxões de orelha”. “Eles treinam sério, por isso nossa equipe evoluiu tanto. E se de repente, um não consegue fazer determinada coisa, ou erra insistentemente, o grupo mesmo apóia, ajuda, dá uma força e ele consegue superar. Eles são capazes!”.
No basquete paraolímpico, os atletas são classificados de acordo com o grau de deficiência. Essa classificação funcional delimita a pontuação máxima que uma equipe deve ter dentro de quadra, que segundo o Comitê Brasileiro de Basquete na cadeira de rodas, a soma máxima não deve ultrapassar os 14 pontos. A disposição quanto à pontuação varia de um a quatro e meio. Quanto menor o número, maior o grau de limitação do atleta.
Alunos de Educação Física também ajudam nos treinos
Arma de fogo, poliomielite e tétano. Essas foram às causas que levaram Maurílio Oliveira, Renato Lima e José Araújo Filho a se encontrarem e lutarem por um mesmo objetivo: provar para eles, que o esporte é mais do que chegarem ao topo do pódio. O esporte é a tão sonhada inclusão, é a oportunidade de se sentirem capazes e fortes diante das dificuldades. Praticar um esporte paraolímpico é um exercício de superação. “Sem o esporte você fica isolado do mundo, quem prática esportes supera o preconceito, as adversidades, faz amizades e até melhora o relacionamento com as pessoas, aqui você encontra alguém que lhe entende, que lhe compreende”. Diz Renato Lima, ala do time.
As posições e pontuações dos atletas entrevistados, são: Maurílio, armador, um e meio (1,5) em função da lesão medular que limita os movimentos de tronco; Renato (ala) e José Filho (pivô), dois pontos (2,0), mesmo tendo poliomielite e amputação da perna esquerda, respectivamente, tem uma pontuação superior em função da maior facilidade de deslocamento e mobilidade.
Com boa vontade e muita simpatia. Os atletas responderam a equipe VOLVER algumas perguntas. CONFIRA:
Volver: Como vocês descobriram o basquete em cadeiras de rodas?
Maurílio: Eu descobri lá no Sarah Kubitschek. Lá, eu encontrei quatro pessoas que faziam tratamento, também com lesão medular. E formamos o time quando chegamos aqui. Apesar de ser um time novo em competição, já temos segundo lugar no regional e terceiro no brasileiro.
Renato: Estava em casa, quando sai para ver um pagode que estava acontecendo do lado. Lá encontrei o Maurílio que me convidou para fazer o teste. Depois fui ate o Círculo Militar fiz o teste e o Rex me convidou para ficar.
José Filho: Eu soube através de um amigo.
Volver: Como vocês se sentem ao entrar em quadra?
Maurílio: Sinto uma emoção muito grande. O basquete é uma das paixões da minha vida. Já jogava antes da deficiência, só adaptei por causa da cadeira. Depois do acidente eu não entrei em depressão, na verdade, eu estava feliz por estar vivo com a minha esposa e meu filho.
Renato: No primeiro regional na Paraíba, quando eu entrei no jogo no terceiro quarto, a primeira cesta que eu fiz, comecei a chorar em quadra. Você entrar em quadra, representar a bandeira do seu estado, vendo todo mundo na arquibancada te dando força e tu fazer uma cesta, ajudar teu time é ganhar, é algo mesmo pra se emocionar.
José Filho: Também fico muito emocionado. Aqui é o lugar onde você se sente bem, você se diverte em quadra, todo mundo se trata de igual pra igual.
Se o time utilizar uma mulher no elenco, ganha um 1 ponto de bônus
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O treino mais parece uma reunião de clube. Todos os melhores amigos se reunindo, momentos de descontração e troca de experiências marcam o treinamento. Mas na hora de treinar sério, todos se empenham, sob o olhar atento e exigente do técnico. É nítido que os jogadores também se cobram, perseguindo melhores resultados, não o melhor resultado dentre os companheiros, mas o melhor resultado, de acordo com sua individualidade. Diante de um empecilho qualquer, o rosto franzido e obstinado, após um acerto o rosto iluminado pela luz brilhante da superação.
Assistir o treino de basquete dos cadeirantes, é compreender, acima de tudo, que todos somos iguais, sim! Entretanto cada um com suas particularidades e diferenças. Em quadra, todos os jogadores se diferenciam, mas isso não tem nada a ver com suas condições físicas ou classificação funcional, os atletas se diferenciam, porque são únicos. Como todos nós somos: Únicos! O esporte praticado por deficientes deixa isso bastante claro. Por isso, não valem comparações, cada um dá o melhor de si. E é justamente assim que qualquer atividade deveria ser encarada, levando em consideração o esforço individual que cada um utilizou para chegar a determinado resultado. Somos iguais, sobretudo, porque todos temos dificuldades e limitações. Seja de qualquer natureza. O importante é o poder transformador presente em cada um.
Renato é só alegria e emoção quando fala do Basquete
Renato poderia estar em casa se maldizendo da vida em frente à TV, assistindo programas esportivos (que são seus favoritos) e invejando o sucesso dos atletas que ele acompanha. Mas não, Renato enfrentou seu próprio preconceito e todos os dias desafia a ausência de acessibilidade da nossa Capital e vai treinar, talvez fosse mais fácil ficar em casa. Mas pergunta ao Renato se seria mais prazeroso? Renato, que sonha em jogar na Seleção Brasileira Paraolímpica, não inveja mais os atletas da TV, afinal de contas, ele tem sua própria rotina e satisfação de atleta. Os desafios existem, resta saber da coragem para enfrentá-los.
VEJA O VÍDEO DO TREINO
MAIS INFORMAÇÕES:
Confederação Americana de Basquete para Cadeirantes
Confederação Internacional de Basquete para Cadeirantes
Paraolimpíadas
Conquista de títulos do time de Basquetebol de Cadeira de Rodas de Teresina
Conquista de títulos do time de Basquetebol de Cadeira de Rodas de Teresina
Por: Ana Isabel Freire (anaisabel_freire@hotmail.com) - Mariana Guimarães (mariana-guimaraes@hotmail.com) – Nina Nunes (nina_quasenada@hotmail.com)
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