sábado, 17 de outubro de 2009

Adoção – ato de amor

Para o amor não existem limitações
Enquanto esperam por adoção, crianças deficientes transformam abrigo em lar

Eram 15 e 30 da tarde de sexta feira (16/10) quando chegamos ao Lar da Criança Maria João de Deus. Logo que adentramos na instituição fomos recepcionados por uma bela “criança” especial chamada Nagda de 21 anos. O olhar daquela mulher refletia em nós a pureza de uma criança. Após cerca de cinco minutos de contato ela já nos abraçava e nos chamava de tia. Uma pessoa verdadeiramente especial.

O Lar da Criança, situado na Rua Empresária Giza, Vila Operária na zona Norte de Teresina, é um abrigo para crianças que estão passando por problemas em casa, sofrendo algum tipo de violência, maus-tratos, abandono ou aquelas cujos pais são impedidos de continuar com a guarda. O objetivo do trabalho do abrigo é auxiliar essas crianças, dando a elas condições de se restabelecer emocionalmente e contribuir para que elas possam retornar ao convívio dos pais ou parentes, que, caso não seja possível, elas passam a ser encaminhadas para a adoção.

A instituição conta com uma estrutura ampla que compreende um consultório médico com profissional dando assistência diária e integral às crianças e havendo necessidade, a criança é encaminhada à rede hospitalar especializada. Além do médico, outros profissionais fazem parte da equipe, entre eles, o psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, professores, e os “cuidadores” que são pessoas que passam mais tempo com as crianças, cuidando, alimentando-as como verdadeiras “mães postiças”.

“Eu trabalho há mais de 20 anos desde quando o abrigo funcionava no aeroporto. Aqui a gente cuida como se eles fossem filhos da gente, com carinho. Todos são iguais, não tem diferença. Eu gosto muito desse trabalho. Sinto falta deles quando eu estou em casa, fico pensando em como eles estão aqui. É como se eles fossem filhos pra mim”, diz Lúcia de Fátima Nascimento, uma das “cuidadoras” responsável pelas crianças deficientes.

Com capacidade máxima para 60 crianças, o Lar se encontra superlotado abrigando 80 crianças das mais diferentes faixas etárias. Destas, 10 são portadoras de deficiência, entre elas, a Nagda. As crianças são separadas em quartos de acordo com a idade sendo que cada quarto tem dois responsáveis. No berçário um, ficam as crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos, independente de possuírem ou não algum tipo de deficiência e no berçário dois, as crianças de 3 (três) a 6 (seis) anos. Após os seis anos, as crianças vão para quartos separadas pelo sexo, sendo um quarto para crianças dos seis aos nove anos e em outro de dez a doze anos.

O abrigo apresenta espaços recreativos e salas para estudo, já que todas as crianças em idade escolar são matriculadas em escolas próximas ao Lar. A instituição possui ainda uma decoração alegre e colorida com fotos das crianças nas paredes para criar uma identificação maior entre a criança e o abrigo a fim de transmitir conforto e segurança a elas, e, principalmente as que acabam de chegar, para que, mesmo estando longe de casa, percebam aquela casa como o próprio lar.

Sendo o Lar da Criança um abrigo temporário, as crianças só podem lá permanecer até os doze anos, a exceção dos portadores de deficiência. Após essa idade, os pequenos são encaminhados para abrigos que atendem adolescentes como, por exemplo, os abrigos femininos e masculinos que são mantidos pelo Estado e a Casa Dom Barreto que é uma organização não governamental. As crianças que apresentam alguma deficiência, não são transferidas, permanecendo na casa a exemplo da Nagda, do Luis Eduardo e Maria Célia ambos com 23 anos.

Porém, com a nova Lei de Adoção sancionada em 03 de agosto de 2009, pelo Presidente Lula, as crianças não poderão mais permanecer nos abrigos por um período superior a dois anos. Veja o que mudou com a nova lei. Clique aqui!



As visitas às crianças ocorrem em dois dias da semana. Às sextas- feiras é restrita aos familiares e às quartas-feiras, à comunidade. Segundo a assistente social, Arthemire Ferreira, “Por conta da super lotação nós resolvemos suspender as visitas da comunidade. A menos que sejamos informados os reais objetivos da visita”.

Por ter caráter provisório, as crianças do Lar da Criança ainda têm a possibilidade de retornar ao convívio dos pais. Por essa razão, dos 80 assistidos, apenas os deficientes estão na lista para adoção.

Ainda segundo a assistente social, é muito difícil encontrar famílias que queiram adotar crianças deficientes, pois os casais geralmente já têm um perfil da criança que querem adotar e os deficientes não se encaixam nesse perfil acabando por ficar morando quase que definitivamente no abrigo. Mesmo com essa dificuldade, já houve casos de adoção de crianças com deficiência.Veja o vídeo:



O processo de adoção ocorre através do Juizado da Infância e Juventude. A família interessada em adotar uma criança, deverá procurar o juizado e dá inicio ao processo que irá avaliar se ela está ou não apta à adoção. Veja como é o processo!

PADRINHOS DO CORAÇÃO

Esse é o projeto desenvolvido no Lar da Criança em que as pessoas se cadastram e em seguida passam por uma avaliação para saber se elas têm condições emocionais, psicológicas para passar um tempo, geralmente feriados ou finais de semana com uma criança. Uma espécie de adoção temporária. Mesmo nesses casos não é comum a escolha da criança deficiente.

Quer saber mais sobre os padrinhos do coração?

Em entrevista publicada no dia 12 de outubro de 2009, Volver apresentou um caso de adoção temporária. Clique aqui!
A Equipe Volver apóia e incentiva a adoção, seja definitiva ou iniciativas como os “padrinhos do coração”. Nossa maior missão é informar, mas em alguns casos (como esse) nossa pretensão ultrapassa a informação. Nosso objetivo é a conscientização. Conscientizar da situação dessas crianças. Adotar é um ato de amor. E para o amor não existem limitações ou deficiências.

Essas crianças precisam ser amadas por pais de verdade, por responsáveis cuidadosos. Queríamos ter deixado registrado em fotografia ou vídeo, a receptividade calorosa que tivemos nos olhares brilhantes das crianças ao nos verem, na arrumação simples e acolhedora do orfanato, nos abraços gentis, mas impossibilitados por regras da casa de fazer qualquer registro, deixamos aqui nossas impressões apreendidas através dos olhos e do coração.

Por: Ana Isabel Freire (anaisabel_freire@hotmail.com) - Mariana Guimarães (mariana-guimaraes@hotmail.com) – Nina Nunes (nina_quasenada@hotmail.com)

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