O trabalho com o barro transforma a vida de mulheres no Poty Velho
“Passei 22 anos da minha vida carregando tijolos na cabeça. Vivia numa situação de miséria. Depois que aprendi a arte da cerâmica, minha vida mudou. Comecei a me sentir valorizada, minha auto-estima aumentou, e, hoje, digo: o barro ta no meu sangue. Se antes era uma questão de sobrevivência, hoje é de sobrevivência e de amor. Tenho orgulho do que faço, e não pretendo mudar.”, declara emocionada Dona Raimundinha Teixeira, Presidente da cooperativa das artesãs do pólo cerâmico do Poty - COOPERART.
O bairro Poty Velho é permeado por várias histórias semelhantes à de Dona Raimundinha. Histórias de donas de casa humildes, que além do trabalho doméstico, assumiram o trabalho árduo de subir e descer ladeiras equilibrando sobre as cabeças, não apenas objetos de cerâmica, mas a construção de um futuro melhor para tantas famílias, colaborando com maridos, irmãos e pais.
A atividade ceramista foi a principio um exercício eminentemente masculino, onde a atuação feminina era tida como minoria, mas uma minoria fundamental para a formação e consolidação do que hoje se vê. Com o surgimento da Associação dos Artesãos do Poty Velho – ARCEPOTY, a construção do Pólo Cerâmico e da COOPERART as coisas melhoraram para as mulheres. Diversos cursos passaram a ser promovidos às artesãs, e o trabalho que antes era mais braçal, após a capacitação, passou a ser mais elaborado e desde então elas atuam nas áreas de pintura, venda e produção de artefatos decorativos e bijuterias.
TRÊS HISTORIAS E UM PONTO EM COMUM: O BARRO
Dona Helena Lima
Maio de 1985. Essa foi a data que a artesã Dona Maria de Lourdes, em mais uma das inúmeras histórias de superação das mulheres ceramistas, iniciou seu trabalho com a cerâmica. De Imperatriz, no Maranhão, a artesã veio à Teresina grávida de uma menina e com três filhos pequenos. No começo, só o marido tinha o conhecimento da atividade ceramista. Com muita dedicação e principalmente, diante da necessidade, a artesã passou a aprender e se tornou uma típica artista do barro. Hoje, dona de sua própria casa e de uma vida digna sustentada pelo trabalho com o artesanato, Dona Maria não se intimida ao relembrar o passado. “Tinha dias que comia apenas arroz com piaba e morava em casa alugada”. Decoradora e escultora de peças, Dona Maria revela o principal responsável pelo sucesso de suas criações: o amor pela arte. Reconhecida internacionalmente, a artesã exibe em seu local de comercialização das peças, uma parede com diversas assinaturas e recados, uma espécie de “parede da fama”, onde visitantes ilustres como a atriz Thaís Araújo e o cantor Ricardo Chaves deixaram mensagens de incentivo ao trabalho da artesã. Além de famosos, turistas também deixam registrados suas impressões sobre a lojinha de Dona Maria, que fica impresso nas paredes a marca de uma passagem pelo estado do Piauí e o conhecimento da arte do Poty, que conquista o mundo.
"Parede da Fama" na loja da Dona Maria de Lourdes
Dona Maria fala sobre sua "fama internacional"
Dona Maria de Lourdes cuidando da educação dos descendentes
A maioria das artesãs não tem a pretensão de ocupar o espaço do marido na família, elas almejam apenas complementar a renda familiar, mas existem casos particulares como o de Dona Francisca Lima, que sustenta sozinha os cinco filhos e reflete sobre a sua situação e sobre o futuro dos seus descendentes: “Não dá pra enricar com a cerâmica, mas eu não quero ser rica, quero é criar meus filhos com dignidade e tão tudo aí criado, tudo trabalhando com barro, mas não deixam de estudar, porque eu fico em cima. Tem que ter estudo, mas se quiser viver só do barro também pode”. Dona Francisca, mãe protetora, assim como outras dezenas de mães que concordam que o artesanato é um ótimo e prazeroso meio de vida. Entretanto não abre mão do estudo dos filhos, acreditando que com a educação tudo melhora e que é possível ser um doutor artesão, ou mesmo um artesão bem instruído, um artesão “que sabe das coisas”. “A mãe só quer o melhor pra o filho, né verdade?” Indaga Dona Francisca.
Seja Dona Raimundinha, Dona Maria, Dona Helena, Dona Francisca... Seja qualquer uma delas... Todas são “donas”. Donas de histórias de vidas distintas, donas de experiências de superação, donas de amor incondicional pelos filhos, pela família, pelo lar, pelo barro. Donas, sobretudo, do título de mulheres de fibra, de mulheres do Poty, que modificaram a história do bairro, do artesanato e das gerações que seguiram.
Antonio Francisco, artesão, que acabara de modelar uma linda morena de angola com um olhar penetrante, vestindo vermelho. Responde sorrindo o porquê das mulheres serem o principal tema de suas esculturas: Porque elas nos inspiram... Ah... Porque elas são lindas!
Mulheres de Angola
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Por: Ana Isabel Freire, Mariana Guimarães e Nina Nunes.
Gostei do blog. (:
ResponderExcluirolhaí! to gostando de ver! mt bom o trabalho de vcs meninas! =D
ResponderExcluirA equipe Volver agradece a visita de vocês. Nosso trabalho não teria nenhuma razão de ser, se não fossem vocês, queridos usuários. Continuem acessando nossos conteúdos. Um forte abraço!
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