sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Especial - Bullying

Bullying - Não é nada engraçado
Psicóloga fala sobre os atos de agressão física e psicológica
Colocar apelidos, zoar, tirar sarro, ofender, humilhar, excluir, agredir, aterrorizar – Podem ser apenas palavras soltas e aleatórias para alguns. Mas para as vítimas de bullying, todas fazem muito sentido e unidas significam tristeza e sofrimento. Atos de violência que se configuram como Bullying vêm atormentando crianças e jovens cada vez mais cedo e com mais freqüência. Em entrevista à Equipe Volver, a psicóloga e Mestre em Saúde Coletiva pela UNIFOR, Universidade de Fortaleza-CE, Ana Célia Sousa, fala sobre o Bullying e suas conseqüências para a formação da personalidade de crianças e adolescentes.

Volver: O que é Bullying?

Ana Célia: Bullying é um tipo de agressão, geralmente em escolas. O bullying afeta tanto as crianças, os estudantes, quanto os professores: o bullying se dá da relação aluno-aluno, aluno-professor e professor-aluno.

Volver: Qual a faixa etária em que ocorre esse tipo de agressão?

Ana Célia: A princípio se imaginava que o bullying fosse característico de crianças na entrada da puberdade, crianças entre nove e dezesseis anos, que coincide com o processo de produção de hormônios, mudanças no corpo. As primeiras pesquisas apontavam que o bullying surgia com simples apelidos (o gordinho, o baixinho, etc.), é nessa fase com o corpo passando por uma transformação e a criança desconhece esse novo corpo, então ela tem certa dificuldade de manejar essas transformações e os colegas começam a fazer brincadeiras que eles diziam brincadeiras sem graça, a usar apelidos e apelidos que atingem a auto-estima da criança, rotulam e mexem na auto-estima que por sua vez altera a autoconfiança. Disso vem todo o transtorno.
Atualmente, a gente percebe que isso se dá não só entre crianças, entre púberes, uma vez que a maturidade está acontecendo cada vez mais cedo e em conseqüência disso as crianças estão adolescendo precocemente. Isso é uma realidade não só nas escolas de níveis fundamental e médio como também no ambiente universitário e não só entre os alunos, mas também entre os professores.
"Os agressores são as crianças que tem um temperamento, um caráter mais agressivo"

Volver: Existe um perfil para as crianças que são vítimas e para os agressores?

Ana Célia: As pesquisas mostram que em geral as crianças que sofrem o bullying são aquelas que estão estereotipadas pela nossa cultura, a gordinha, a baixinha, a muito magra, as que fogem a esse padrão que é valorizado pela nossa cultura. Os agressores são as crianças que tem um temperamento, um caráter mais agressivo, são crianças que passam com muita facilidade da brincadeira para a agressão. Por exemplo: uma criança que adora brincar de matar insetos, pega uma lagartixa e faz do animal um brinquedo, mas nesse brincar você pode observar que ela maltrata, ela mata como se aquilo tivesse provocando um prazer muito grande nela, então o limite entre o brincar e o agredir é muito tênue entre o prazer, a excitação e a agressão, e entre a agressão e a violência. Você pode ser agressivo e não necessariamente ser violento, ser agressivo a ponto de ter uma reação pontual, mas não que essa reação gere violência, a ponto dessa agressividade atingir a sua auto-estima, dizendo coisas do tipo: você não sabe de nada, você é burra. Além da agressividade eu já estou violentando essa pessoa. Em geral são pessoas que já tem no seu temperamento uma tendência a agressividade e que começa muito cedo. Os pais, os educadores, os cuidadores, não apontaram para essa criança que ser agressivo é uma coisa e ser violento é outra, que as brincadeiras têm limites, a questão do respeito ao outro. Sabe-se que o adolescente quer corresponder a um padrão idealizado pela cultura então se ele não está correspondendo a esse perfil, um quilo a mais ou a menos vai fazer com que ele se sinta a pior pessoa do mundo.

Volver: Existem casos de Bullying no Piauí?

Ana Célia: Existem. Tem pesquisas comparando o bullying na escola pública e na escola privada, entre as crianças de classe baixa e as crianças de classe alta não há diferenças. As crianças de escolas particulares são tão agressivas quanto as de escolas públicas, a forma da agressividade é que varia, os instrumentos que cada um utiliza são diferentes, por exemplo, os alunos de escola particular se utiliza de meios como MSN, Orkut, e fazem alterações nas imagens das “vitimas” no Photoshop, fazem montagem nas fotos dos amigos ou amigas e colocam como se fosse algo engraçado e isso causa um transtorno muito grande. Teve uma menina que psicosomatizou isso, porque usaram uma imagem dela e ela ficou com muito medo da família ou dos professores identificarem que naquela fotografia era ela, mas ela não tinha vivenciado aquela situação, isso foi um bullying de um colega. Ou seja, o recurso é outro.

Volver: Como os pais podem fazer pra identificar que o filho esta sofrendo Bullying?

Ana Célia: Em geral a criança que esta sofrendo bullying começa apresentar queda no rendimento, dificuldades no processo de socialização, na motivação pra ir à escola, tudo é motivo pra querer ficar em casa, as tentativas de mudar de escola, as doenças psicosomáticas, as gastrointestinais são muito comuns. Adolescentes reagem ao bullying tendo desmaios, vômitos, diarréias, são doenças que não tem um fundo físico se você for avaliar, estão relacionadas a um componente emocional.

Volver: Aqui no Piauí, os casos são graves a ponto de evoluírem para o suicídio, por exemplo?

Ana Célia: Não tenho conhecimento. Tenho conhecimento de adolescentes que desenvolveram fobias sociais, que viveram crises de depressão. Até porque o suicídio não tem uma causa única, a pessoa não se suicida porque foi vítima de bullying. O suicídio acontece em todo um contexto que pode ser que a pessoa não tenha sabido lidar com essa situação do bullying e isso contribuiu para essa morte do “eu” que culmina com o suicídio.
VEJA O VÍDEO COM TRECHOS DA ENTREVISTA



Volver: Existem programas que tentam coibir o bullying?

Ana Célia: As escolas têm trabalhado muito essa temática de fazer a prevenção, de deixar bem clara essa questão do limite, do respeito ao outro, da convivência com a diversidade, a auto-proteção, o zelo pelo seu “eu corporal”, pela sua imagem, na medida em que eu zelo pela minha identidade, pelo meu “eu”, eu dou um limite, uma barreira pro outro. Até na própria historia da família, antigamente nas famílias se dizia: aqui todo mundo tem um apelido, a gente achava muito engraçado, hoje apelido virou rótulo. O apelido altera a auto-imagem, mexe com a auto-estima da pessoa: você chama: “essa não é a Maria, é a Mariazinha”, ao mesmo tempo em que você dá uma interpretação de ser uma coisa carinhosa também é uma forma de você minimizar a pessoa. Então essa prevenção de você estar colocando limites e dizendo que a interpretação, a percepção é de cada um e que a forma como você chama: “olha o doido, olha o abestado, gordo, o baixo, olha o burro”, isso pode ser uma coisa jocosa, mas nesse jogo está uma repercussão emocional, como cada um interpreta essa brincadeira. Pode ser que a pessoa que não esteja bem e essa brincadeira inofensiva possa gerar uma repercussão emocional muito complicada pra pessoa.
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SAIBA mais sobre Bullying
Por: Ana Isabel Freire (anaisabel_freire@hotmail.com) - Mariana Guimarães (mariana-guimaraes@hotmail.com) – Nina Nunes (nina_quasenada@hotmail.com)

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